terça-feira, 10 de julho de 2012

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  Eu me arrumava no quarto, completamente feliz por que em pouco tempo eu estaria vendo o show de um dos maiores astros das últimas décadas e assim eu cantarolava "Hey Jude" em minha cabeça. Tive meu pensamento quebrado pela voz da minha avó que no quarto da frente dizia: "O que é Artur? Não tá se sentindo bem não?". Eu vi o meu avô sentado na cama dele um pouco abatido, mas Seu Artur era difícil de convencer. Depois de algum tempo, meu pai e minha avó venceram e o levaram até o hospital e eu segui no meu táxi em encontro ao show. As músicas passavam e eu em êxtase, não tirei o meu avô do pensamento nem por um segundo, eu cantei o 'nanana' do hey jude olhando pra cima pedindo a Deus para voltar pra casa e ter boas notícias.

  Show terminado, voltei pra casa, fui pra cama... meu avô ainda comigo.
Lembro perfeitamente de ser acordada pelo meu pai que com o maior esforço do mundo me deu a notícia. Mas e agora? Será que o meu avô ainda está comigo? Como será conseguir viver sem um dos maiores amores da minha vida? Lidar com a perda de alguém é algo tão complexo que não se aprende, se força. É como uma constante queda. Você não entende nada.
Foi assim que eu me senti a cada pensamento que surgia na minha cabeça.

    É difícil falar de alguém que não cabe em palavras. O meu avô foi um homem incrível, ele era o único capaz de repetir a mesma pergunta toda manhã, mesmo já prevendo a resposta igual de todos os dias, só para ter certeza que não ía deixar de saciar a minha vontade. Ele tinha um coração muito grande e uma alma de criança, que o tornava teimoso, e mesmo assim, tão querido. Quem não gostava de Seu Artur? Costumo dizer que minha vida foi um conto de fadas, por que tenho uma família que me proporcionou tudo aquilo que uma princesa precisa. O meu avô acompanhou tudo isso e se fez um rei.


Hoje eu entendo bem o quanto o meu avô fez por mim. Queria ter conseguido dizer a ele muito mais do que os meus pensamentos durante o 'nanana' do hey jude, mas hoje eu sinto que ele sabe tudo o que eu não tive a chance de falar

Mudei minha forma de pensar depois que passei por tudo isso. A verdade é que mesmo na difícil missão de levar a vida nessa saudade sem fim, consigo responder a pergunta que tanto me martelou: eu nunca perdi o meu avô, eu levo a vida na felicidade de um sorriso que ele deixou marcado e quero o reflexo da sua inesquecível presença fazendo parte dos meus passos.

Desse jeitinho, ele vai viver em mim para sempre.
Obrigado, Vô!

domingo, 18 de dezembro de 2011

Sem Métrica

Eu preciso aprender a olhar a vida de outro ponto de vista.

Se eu ouvisse o vento percorrendo o caminho do meu rosto
eu deitaria em alguma nuvem pra sonhar.

Do olho do furacão
saiu o ontem que eu quis esquecer
e o agora que eu tento manter
o sol insiste em não deixar

Se a cabeça sobe, o corpo se perde
por que pensar é o primeiro passo p'ra esquecer
Sigo olhando para baixo e procurando
a migalha que restou do merecer.

Me convida pro futuro do buraco que eu caí
o que eu vivo não condiz com minha vida,
levo ela pra criar a expectativa
de que amanhã ela exista por aqui.

Eu preciso voar.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Aquário

Às vezes me vem a cabeça(como sempre), as minhas indignações que me trazem a fama de chata e polêmica(que eu adoro, confesso) e foi a última delas que me fez escrever agora(por mais que seja difícil passar o que eu penso de forma clara e educada, por que a minha revolta faz da idéia, impublicável.).

Penso eu, que vivo hoje num universo bem semelhante ao dos caranguejos.
Quando era menor, ía a alguns restaurantes e olhava tão inocentemente os aquários desses animais, tentando entender o por que daquela luta para fugir dali. Onde o mais esperto era o que conseguisse subir em cima do outro para chegar ao topo, mas logo em seguida vinham outras dezenas e o puxavam para baixo novamente.

Talvez a minha realidade hoje me leve a acreditar que o numero de "caranguejos" esteja absurdamente alto dentro dela. E não, não estou falando dos simples crustáceos.
Os caranguejos do grande aquário que tento expôr a vocês almejam por status, dinheiro, fama e tudo o quanto foge do seu alcance fora do aquario que eu prefiro chamar assim, ao ter que dizer: da minha sociedade.
Virou bem normal tentar subir em cima do que tem a maior “pata”, afinal de contas, quanto maior ela for, mais chance ele tem de chegar ao topo.

É triste a minha “sociedade crustácea”. Acho que posso explicar o por que do não-progresso do meu país. Se minha sociedade está tomada de “caranguejos”, só me resta a pensar que exatamente igual a eles, ela não anda pra frente.
Mas eu ainda comemoro por saber que existem seres superiores a tudo isso, que conseguem assistir a essa “luta” de fora do aquário. E não são superiores por já estarem fora deste ou por auto-intitulação, são superiores pela própria escolha de não participarem desse processo claramente inválido.

O mais engraçado de toda essa luta é saber que ela se faz inválida por um simples e óbvio motivo: Um dia a luta termina.
E diferente dos campos de batalha, sem vencedores.
Eles acabam de volta para a lama
ou então, no fundo da panela.

Eu preferia ter crescido sem entender.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O amor quer desabar.

E quando a vida faz da gente uma dupla de cartas encostadas e bem arriscadas a cair?
Parece que é assim que hoje eu tô.
Mesmo sabendo que você precisa plantar pra colher, essa horta tá me custando uma dificuldade enorme.
Às vezes parece ser muito mais fácil você admitir que não consegue e soprar bem forte deixando tudo desabar. - vai lá, desaba mesmo, quero mais é que tu se exploda! -

Depois que você vive uma intensidade muito grande de um amor, você vai sendo puxado cada vez mais pra um universo anti-questionamento, você entende por que a razão e a emoção ficam em lados tão opostos. E você começa a sair do meio do duelo e quer se juntar a antipatia de um e deixar a loucura do outro bem longe... mas isso tem um tempo contado.
Eu amo. Muito mais do que se é capaz. Em todos os tempos!
Cheguei em um momento que eu quero sair correndo da antipatia da razão, eu quero a loucura da minha emoção cantando bem alto dentro de mim.
Eu quero viver o amor que me mostrou que eu sou fraca mesmo, esse que me implora todo dia para soprar as cartas.
E ao mesmo tempo eu vivo ouvindo a antipática da razão me mostrando que a recíproca é verdadeira, mas nem sempre é eterna.
Ela joga na minha cara que se eu soprar, os dois lados das cartas desabam. E o castelo não se monta sem a base das duas. Pode ser que o jogo termine e termine sem graça, sem vencedor e como sempre acontece, sem cartas na mão!

Sendo assim, tudo termina igual. Tudo termina sem nada. As cartas apoiadas e o duelo me partindo ao meio, talvez um dia esse nada faça sentido
ou então eu morro amando e não-questionando.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Auto-reconhecimento

O meu sorriso hoje me entregou. Eu olhei pro céu e ri sozinha.
Depois que a saudade virou minha amiga, eu descobri um mundo que não tem fim, um mundo que me chamou e trancou a porta para eu nunca mais ir embora
- e eu só pedi obrigado. -
Passei a olhar pro lado e perceber que pra ser feliz a gente só precisa viver e pra viver a gente precisa ser feliz, se bem me entendem.
Só deixei de ‘sobre-viver’ quando fui muito fã de mim.
Quando olhei pro pódio e até esqueci que o segundo e o terceiro lugar também estavam lá, eu só me enxergava no lugar mais alto.
Passei a me querer sorrindo a cada intervalo de 1 minuto e acreditei que os meus 15 minutos de fama duram o tempo que eu quiser.
Eu deixei a falsa modéstia do meu próprio eu para ser usada apenas na farsa que às vezes a vida requer.
Agora que eu entrei nesse mundo, as placas apontando a saída não existem mais, aliás, se existem eu preciso de óculos.
E eu quero no meu novo mundo quem quiser se jogar no amor, quem conseguir esquecer que medo existe e quem não sentir dor com tropeços.
Deixar as besteiras de uma vida azeda e se empaturrar nos opostos que dão sentido a ela.
Eu tô aqui, com a minha lista de convidados na mão.

E embora esse mundo amanhã nem exista, eu invento um ainda mais ousado.
Se ele tivesse um nome, eu chamaria carinhosamente de vontade.
Não vou buscar conto de fadas.
Quero uma felicidade assim, arrogante.
Ainda que eu nunca tenha tentando.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O mundo

Matheus acordou naquele domingo. Cedo.
O relógio da cozinha não marcava muito além das nove da manhã.
Era um domingo um tanto diferente, o dia do aniversário de sua mãe.
Uma pequena mudança de caminho antes de chegar à casa dela.
Como havia prometido, iria passar para comprar as entradas de um filme que muito a interessava, um filme nacional, Chico Xavier.
Ao chegar no shopping, dá de cara, não muito hiperbolicamente, com uma fila quilométrica.
Susto.
Se dirigiu em figura impressionada até um segurança, que lutava para tentar manter a organização no caos que se formava alí.
- Por favor, o que acontece aqui? Esta é a fila do cinema? - apontou para a fila, esperando uma resposta negativa.
- É sim, senhor. É que hoje é a pré-estréia do novo filme Tropa de Elite. - Respondeu o segurança com um olhar perdido e agoniado em meio ao mar de gente que se amontoava na fila.
Matheus parou.
Olhou. Olhou mais um pouco e desistiu.
E em longos passos para fugir o quanto antes daquele lugar, pensava dentro dele como explicaria para a mãe que não conseguiu comprar as entradas.
Não seria tão difícil, afinal de contas, ele tinha um plano B. Ele sempre tinha!
Entrou no carro, suspirou de alívio e seguiu até o destino final: A casa de sua mãe.
Dentro do carro havia seus pertences, uma embalagem com um livro de presente para sua mãe e no rádio tocava uma música qualquer.
Aos metros quadrados que ele passava, percebia naquele feriado, a rua um pouco mais tranquila.
Faltava uns 5 minutos para chega até a casa.
Parado em um sinal, pelo retrovisor conseguiu enxergar uma moto rapidamente parar ao seu lado.
Uma arma.
Encostada no vidro.
E em seguida um grito: - Abre o vidro e passa o que tiver! - gritou o ladrão com o capacete fechado e uma película que impossibilitava o reconhecimento de seu rosto.
Matheus assustado e sem nenhum receio, obviamente, pegou rapidamente tudo aquilo que havia dentro do carro.
Sua carteira, seu celular, sua mala com um notebook, alguns papéis de trabalho e até mesmo um pacote do presentinho singelo que pedia pra ficar. Entregou tudo. Até a chave do carro ofereceu.
- Esse relógio também, 'bora bora'! - Na agonia e no medo, o ladrão pediu novamente.
Matheus entregou.
Nessa hora, para a própria surpresa. O ladrão agiu com um descontrole.
Quando viu o tanto de coisa e cardápio variado que não poderia segurar com a mão, jogou violentamente o pacote com o livro na cara de Matheus.
O livro bateu machucando o canto de seu olho esquerdo e caiu no chão.
O papel foi se rasgando e revelando a capa do livro que havia dentro dele.
Por que logo o livro? - pensou ele.
Matheus olhou para baixo, olhou para um lado e para o outro e sem muita saída, tomou uma atitude não muito diferente. Seguiu em frente.
Por ironia do destino, na rádio tocava uma música: O mundo.

E o livro?
Era um livro de Machado de Assis.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Na medida de você.

Eu tô daqui de cima.
tô tentando te enxergar,
mas você tá muito raso
perigoso vai ficar.

Você invadiu o meu estar
sem ter pena, veio assim
entrou e rasgou tudo
que trilhava dentro de mim

Eu tentei hoje e ontem
vou tentar mais um vez
te afogar na solidão
e não quero nem ter vez

E o pior é que nem sabe
a cicatriz qualquer que criou
devagar me fez refém
de um louco e velho amor